domingo, 18 de janeiro de 2009

22.03 - OPINIÕES

O MUSEU

O Museu Municipal de Porto de Mós, também designado de Museu de História Natural, conta já com quase duas décadas de existência. É uma realidade incontornável que o actual espaço não reúne condições físicas para continuar a albergar uma estrutura à qual se possa chamar museu. Além disso, e sem qualquer demérito pela boa vontade e pelo empenho daqueles que conduziram os seus destinos desde a abertura ao público, a 29 de Junho de 1989, vai sendo hora de aceitar que se impõem método na inventariação das colecções, rigor científico na sua análise e classificação, dinamismo na captação de públicos, criatividade no discurso museológico… É tempo de assumir a evolução, sempre em profundo respeito pelo legítimo orgulho daqueles que se esforçaram por dar forma ao espaço de memória colectiva criado há duas décadas.Vem de longa data a intenção do Município de Porto de Mós de criar uma estrutura museológica municipal de maior expressão, quer na sua dimensão física quer na sua capacidade impulsionadora de dinamismo cultural. É relativamente unânime que essa nova estrutura deverá nascer na antiga Central Eléctrica do Couto Mineiro do Lena, às portas da vila. Mas só um projecto muito amadurecido quanto à construção e ao programa museológico do novo espaço poderá representar uma expressiva mais-valia para o contexto local e regional. Que designação para o novo museu? Que âmbito territorial deverá abranger? Que valências deverá compreender? Estas são algumas questões que devem ser colocadas a priori. Seria impensável desenvolver um projecto de recuperação do edifício sem a prévia definição do tipo de museu que se pretende construir e, acima de tudo, que é possível construir.O Museu de Porto de Mós poderá ser de "História Natural" das "Indústrias da Pedra e do Barro", das "Gentes" ou da "Comunidade Concelhia". Poderá assumir a forma de um simples museu local, de ecomuseu ou de museu de território. Só o rastreio prévio permitirá defini-lo.De forma muito esquemática, pode-se afirmar que a construção do novo museu deveria passar, numa primeira fase, por: Organizar, estudar e avaliar as colecções existentes; identificar as principais potencialidades de crescimento das colecções existentes e de incorporação de colecções novas que singularizem a região; identificar as potencialidades territoriais a explorar no contexto da actividade museológica; prognosticar o crescimento do próprio museu no prazo mínimo de uma a duas gerações.Numa segunda fase, os primeiros estudos permitirão: Definir o programa museológico mais adequado à plena valorização das potencialidades existentes e identificadas; definir as valências de base a incluir no museu; definir os recursos materiais e humanos necessários ao funcionamento eficaz da estrutura a criar.Numa terceira fase, segue-se a avaliação da viabilidade financeira e a decisão política de avançar para a fase de projecto.Por fim, tomada a decisão de construir o museu e considerando todos os elementos previamente identificados, terá chegado o momento de concretizar um projecto de arquitectura consonante com o museu pretendido e tangível.Só então saberemos qual dos rótulos será mais adequado: se o de museu municipal ou regional, de história natural ou da indústria, ou outro…Apesar de haver todo um trabalho de base a desenvolver, é perceptível que a construção de um novo museu pode ser uma oportunidade única para criar uma estrutura com capacidade de expansão ao longo de várias décadas, que contribua fortemente para a afirmação das peculiaridades regionais, muito além dos limites administrativos do concelho. Senão vejamos: Porto de Mós tem uma localização privilegiada para exploração dos mais diversos aspectos do Maciço Calcário Estremenho - do carso à circulação hídrica, do relevo à aridez das paisagens serranas; as indústrias extractivas são uma das expressões menos valorizadas do ponto de vista cultural e, no entanto, aquelas que assumem o maior peso económico - da exploração de calcários às industrial de barro, passando pelas já desaparecidas explorações de minas de carvão; as grandes rotas do turismo religioso ainda não tiveram motivo para valorizar Porto de Mós - talvez museu que assumisse querer ser mais do que um gabinete de curiosidades pudesse modificar este panorama.Em suma, e apesar do rastreio objectivo ainda não ter sido realizado, é manifesto que existem condições potenciais para criar um museu de território com um forte papel a desempenhar na afirmação de uma personalidade regional toldada por um modelo de crescimento que não tem compreendido a cultura e a memória como parte activa do processo de desenvolvimento.
JORGE FIGUEIREDO

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