sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

01.01 - INTENÇÕES

primeiras palavras

Ao mergulhar no tempo fico com a impressão, tão mais viva quanto mais entro nele, de que, nesta terra que é a nossa, quase nunca nada foi feito com tempo. Os nossos gestores públicos apostaram sempre em brilharetes efémeros, em projectos descontinuados, pouco ou nada estratégicos. Tal procedimento tem sido obsessivo na ânsia de encontrar o filão do reconhecimento imediato, num rol de sucessivas transformações e fundamentações que os levaram a fabricar um produto desconsertado, híbrido, sem rumo. O novo gestor da causa e território públicos precisa, em absoluto, da história, não só por pisar territórios pré-existentes mas sobretudo por poder orientar o projecto de uma transformação que vive do tempo e no tempo. A verificação directa do tempo coisificado nos sucessivos extractos deveria, então, aproximar os muitos técnicos e saberes disponíveis dos decisores públicos, ao ponto de quase se confundirem. O domínio do concreto, das coisas, deveria aproximá-los, porque as coisas por nós hoje edificadas são uma camada mais nas sucessivas contemporaneidades precedentes. E aqui nasce a necessidade de, com todos, programar o futuro, assente num diagnóstico sério da situação existente. No espaço dos dois últimos séculos a história deste sítio acumulou, de facto, um cruzamento de muitas histórias, mostrando-nos não um mas vários contributos que se continuaram, sobrepuseram ou cruzaram, destruindo-se ou fragmentando-se, gerando residualidades, hesitações, firmezas, abusos, coisas grosseiras e algumas revelações fantásticas, fascinantes. Após o caminho que fiz pelas leituras históricas convocadas, pelos relatos e relatórios disponíveis, pelos governos que percorremos do despertar ao entardecer, se algo surge como comoventemente único é a capacidade de resistir e de sobreviver a tanta falta de rumo. Hoje por hoje, com tanta qualidade na informação disponível, capaz de um diagnóstico seguro, com tanta capacidade técnica à mão, seria indesculpável não agarrar o futuro na consciência plena de não querer construir Roma e Pavia num só dia. Neste contexto e num trabalho de vários anos aqui deixo uma maqueta de estudo, uma sebenta de riscos e rabiscos que, valendo o que valem, não deixam de ser o meu modesto contributo para que o sol da fortuna brilhe mais na minha terra, sem ter de continuar a ouvir falar de Óbidos ou Batalha que, tendo realidades bem diferentes da nossa, vão sendo apontadas como caminhos recomendados. Não vale mesmo a pena ir por aí... Mais do que extrapolar tendências e explorar cenários teóricos, pretende promover-se uma prospectiva contínua e interactiva, baseada na inteligência colectiva, capaz de identificar e experimentar novas soluções aos problemas vividos, apoiadas em dinâmicas já instaladas ou a instalar, definindo uma trajectória de desenvolvimento. Embora seja uma virtude aprender com os bons exemplos, têm de ser as nossas mãos e talento a pautar e rumo do nosso futuro. 
Somos tão ou mais capazes que os outros, basta fazer das nossas diferenças a nossa força, matando a desunião que tem cavado o nosso insucesso.
Sê tudo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes, como bem disse Ricardo Reis.

Sem comentários:

Enviar um comentário